Quando, no dia 11 de Julho de 1970, a Câmara Municipal de Lisboa, numa cerimónia singela, descerrou as placas toponímicas que baptizavam as ruas até aí designadas por Rua A e Rua C à Rua D. Lourenço de Almeida, chamando-lhes, respectivamente, Rua Martins Barata e Rua João Bastos, vinha conceder-lhes uma identidade própria, sem dependência daquela onde entroncam e que, até aí, servira de referência.
Agora que a unidade afectiva dos residentes ( sobretudo os das gerações que abriam os olhos para o mundo à data daquele acontecimento) se fortaleceu com o Jantar da Rua e em que o Blogue da Rua procura ser instrumento de manutenção desse clima, pareceu de interesse precisar melhor quem foram as personagens cujos nomes figuram nas placas e as razões que conduziram a tal merecimento.
Às três artérias referidas há que acrescentar a que completa o perímetro, a Rua Vila Correia, sendo Vila Correia, originalmente, um aglomerado de habitações para as famílias dos operários que trabalhavam nas instalações fabris ali existentes, dedicada uma à tintagem de tecidos e outra ( M.Carp ) ao fabrico de produtos têxteis, actividades que cessaram em meados do século passado. Essa área, onde sobreviveram alguns prédios que gradualmente vieram a ser demolidos para dar origem a construções de traça mais recente, está hoje, maioritariamente, ocupada por instalações camarárias (equipamentos de jardinagem e viveiros de plantas) e por dois grandes condomínios onde ainda se podem ver alguns muros das antigas fábricas.
Quanto às personagens que dão nome às restantes ruas, respeitemos a antiguidade, começando por D. Lourenço de Almeida. Filho de D. Francisco de Almeida , nomeado por D. Manuel I como 1.º Vice-rei da Índia, quando Portugal procura estabelecer-se naquele sub-continente para dominar em seu proveito o comércio de especiarias, acompanha, com pouco mais de vinte anos, seu pai (cujo nome foi igualmente atribuído a uma rua próxima) . Nas lutas contra os mercadores muçulmanos e venezianos que, até aí, mantinham com os suseranos hindus tratados de comercialização das especiarias, as quais eram encaminhadas para a Europa pelo norte de África, D. Lourenço de Almeida assume o comando de uma armada com a qual obtém importantes vitórias, mas acaba por morrer em combate. Entretanto, as especiarias passaram a ser transportadas pela rota do Cabo, em navios portugueses que as encaminhavam para os mercados europeus.
Falemos agora dos dois titulares mais recentes, Martins Barata e João Bastos.
Às três artérias referidas há que acrescentar a que completa o perímetro, a Rua Vila Correia, sendo Vila Correia, originalmente, um aglomerado de habitações para as famílias dos operários que trabalhavam nas instalações fabris ali existentes, dedicada uma à tintagem de tecidos e outra ( M.Carp ) ao fabrico de produtos têxteis, actividades que cessaram em meados do século passado. Essa área, onde sobreviveram alguns prédios que gradualmente vieram a ser demolidos para dar origem a construções de traça mais recente, está hoje, maioritariamente, ocupada por instalações camarárias (equipamentos de jardinagem e viveiros de plantas) e por dois grandes condomínios onde ainda se podem ver alguns muros das antigas fábricas.
Quanto às personagens que dão nome às restantes ruas, respeitemos a antiguidade, começando por D. Lourenço de Almeida. Filho de D. Francisco de Almeida , nomeado por D. Manuel I como 1.º Vice-rei da Índia, quando Portugal procura estabelecer-se naquele sub-continente para dominar em seu proveito o comércio de especiarias, acompanha, com pouco mais de vinte anos, seu pai (cujo nome foi igualmente atribuído a uma rua próxima) . Nas lutas contra os mercadores muçulmanos e venezianos que, até aí, mantinham com os suseranos hindus tratados de comercialização das especiarias, as quais eram encaminhadas para a Europa pelo norte de África, D. Lourenço de Almeida assume o comando de uma armada com a qual obtém importantes vitórias, mas acaba por morrer em combate. Entretanto, as especiarias passaram a ser transportadas pela rota do Cabo, em navios portugueses que as encaminhavam para os mercados europeus.
Falemos agora dos dois titulares mais recentes, Martins Barata e João Bastos.
Jaime Martins Barata, nascido em 1899 e falecido em 1970, notabilizou-se especialmente como pintor e de tal modo que, logo no ano da sua morte, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu dar o seu nome a uma rua, o que não é nada vulgar.
Nascido no Alto Alentejo (Póvoa e Meadas), onde viveu a infância, veio depois para Lisboa, para seguir um curso superior na Faculdade de Ciências, mas acabando por se dedicar à pintura, com frequência dos cursos da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Concorre a professor de desenho, tendo ensinado em diversos liceus, fixando-se em Lisboa a partir de 1928.
A par dessa função, aperfeiçoa os seus conhecimentos artísticos pintando aguarelas e outras obras, com a preocupação do rigor do desenho e da veracidade histórica dos temas tratados.
A partir de 1940 executa, por convite, uma sucessão de obras de grande vulto, que o manterão em grande actividade até ao fim da vida. Delas, destacam-se:
Nascido no Alto Alentejo (Póvoa e Meadas), onde viveu a infância, veio depois para Lisboa, para seguir um curso superior na Faculdade de Ciências, mas acabando por se dedicar à pintura, com frequência dos cursos da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Concorre a professor de desenho, tendo ensinado em diversos liceus, fixando-se em Lisboa a partir de 1928.
A par dessa função, aperfeiçoa os seus conhecimentos artísticos pintando aguarelas e outras obras, com a preocupação do rigor do desenho e da veracidade histórica dos temas tratados.
A partir de 1940 executa, por convite, uma sucessão de obras de grande vulto, que o manterão em grande actividade até ao fim da vida. Delas, destacam-se:
- em 1940, trípticos para o Pavilhão de Lisboa na Exposição do Mundo Português
- trípticos da escadaria nobre da Assembleia da República
- painéis para o átrio do Conservatório de Música
- painéis para o átrio do Instituto Português de Oncologia
- a partir de 1957, uma série de pinturas de grandes dimensões para vários Palácios da Justiça.
- trípticos da escadaria nobre da Assembleia da República
- painéis para o átrio do Conservatório de Música
- painéis para o átrio do Instituto Português de Oncologia
- a partir de 1957, uma série de pinturas de grandes dimensões para vários Palácios da Justiça.
Paralelamente, tendo participado na elaboração dos selos comemorativos de 1940 que, a partir daí, ganham estatuto de obra de arte, é convidado pela Administração dos C.T.T. para consultor artístico – e, a partir daí, o selo português passa a ser mais procurado pelos coleccionadores, ganhando diversos prémios de filatelia.
Responsável directo pelo selo denominado “caravela” é também o responsável pelo desenho das moedas de 2$50, 5$00 e 10$00, emitidas entre 1963 e 1986 (lembram-se delas?), tendo também a caravela como motivo.
Aliás, este interesse pela caravela leva-o a estudar a arqueologia naval da época dos descobrimentos e a produzir obras de divulgação sobre o assunto.
Não alinhado com as correntes vanguardistas que, na época, se vinham afirmando (Abel Manta, Almada Negreiros,...), recebe pouca aceitação da crítica – mas ele mantém-se, até ao fim da vida, coerente com o estilo que escolhera, de preferência pelo passado e pela sua representação realista.
Faleceu em 1970, quando tinha em curso uma encomenda para o Palácio da Justiça de Lisboa – sendo o seu filho, já anteriormente seu colaborador, quem terminou a obra.
Responsável directo pelo selo denominado “caravela” é também o responsável pelo desenho das moedas de 2$50, 5$00 e 10$00, emitidas entre 1963 e 1986 (lembram-se delas?), tendo também a caravela como motivo.
Aliás, este interesse pela caravela leva-o a estudar a arqueologia naval da época dos descobrimentos e a produzir obras de divulgação sobre o assunto.
Não alinhado com as correntes vanguardistas que, na época, se vinham afirmando (Abel Manta, Almada Negreiros,...), recebe pouca aceitação da crítica – mas ele mantém-se, até ao fim da vida, coerente com o estilo que escolhera, de preferência pelo passado e pela sua representação realista.
Faleceu em 1970, quando tinha em curso uma encomenda para o Palácio da Justiça de Lisboa – sendo o seu filho, já anteriormente seu colaborador, quem terminou a obra.
NOTA – A quem interesse maior desenvolvimento sobre este autor, remete-se para jaimemb.no.sapo.pt/index.html.
João Bastos, titular da última artéria em análise, tendo vivido de 1873 a 1957, foi um comediógrafo que escreveu um grande número de comédias, farsas, operetas e revistas, destinadas a ser apresentadas em palco mas que, nalguns casos, deram também origem a filmes. Destes, os mais conhecidos (porque a televisão os passa de quando em vez) são “O Leão da Estrela”, “O Noivo das Caldas” e “O Costa do Castelo”.
São peças de grande comicidade que retratam a Lisboa pequeno-burguesa de meados do século XX.
João Bastos foi também um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Autores (1925), para defesa dos direitos de autores e compositores, tendo presidido ao Conselho Fiscal.
A.M.
3 comentários:
Este penso ser o 1º de, espero, muitos post´s de representantes das gerações anteriores à que deu o pontapé de saída do reencontro da Malta da Rua. No caso o post é da autoria do meu pai e penso que seria engraçado conhecer a opinião daqueles que nos "carregaram" para a RUA.
Obrigado pai pela tua contribuição.
"Desencaminhem" os vossos, pois certamente também têem estórias para contar.
Parabéns pelo post. A porta do Blog da Rua está sempre aberta! Ficamos à espera de novos textos.
Eu cresci na Rua Martins Barata. Bons tempos com o Zeca Diabo, Pepe, Paulinho, Miguel do 4 andar, Miguel do 6 andar, Americo, Manel, Caloi, Giga, Ginja, etc...
Um abraco
Mario
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