A central Tejo em 1923
A Central Tejo foi uma central termoeléctrica, propriedade das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (CRGE), que abasteceu de electricidade, toda a cidade e região de Lisboa. Está situada em Belém, na capital Portuguesa, e o seu período de actividade está compreendido entre 1909 e 1972, se bem que a partir de 1951 foi utilizada como central de reserva. Ao longo do tempo sofreu diversas modificações e ampliações, tendo passado por diversas fases de construção e produção.
A primitiva Central Tejo, cujos edifícios já não existem, foi construída em 1909 e funcionou até 1921. Em 1914, iniciaram-se as obras dos edifícios de caldeiras de baixa pressão e da sala de máquinas que, posteriormente, foram ampliados várias vezes. Finalmente, em 1941 teve lugar a construção do edifício das caldeiras de alta pressão, o corpo de maior envergadura da central, o qual foi ampliado em 1951 com a inclusão de mais uma caldeira
Os edifícios construídos em 1909, que já não existem, constituíam a primitiva Central Tejo que se manteve a trabalhar até 1921. Foi desenhada e projectada pelo engenheiro Lucien Neu e a sua construção ficou a cargo da firma Vieillard & Touzet (este último, Fernand Touzet, discípulo de Gustave Eiffel).
Durante anos a maquinaria foi sendo modificada para aumentar a potência da central e, em 1912, momento em que se encontra todo o equipamento instalado, a central dispunha de quinze pequenas caldeiras Belleville e cinco grupos geradores com uma potência de 7,75MW. Desde 1916 até ser desactivada em 1921, recebeu vapor das novas cadeiras instaladas no edifício actual da baixa pressão sendo desactivada, desmantelada e usada como arrecadações e oficinas a partir dessa data até 1938, momento em que foi demolida para a construção do edifício das caldeiras de alta pressão.
Fase da Baixa PressãoAs naves da baixa pressão começaram a ser construídas em 1914 e foram concluídas em 1930, tendo três fases de construção de grande importância. A primeira (de 1914 a 1921) abraça a construção de duas naves industriais para as caldeiras, a sala das máquinas para os alternadores e para a subestação. A segunda fase (de 1924 a 1928) corresponde à primeira ampliação da sala das caldeiras com uma nova nave longitudinal, da aquisição de um novo grupo gerador, da construção de um distribuidor de carvão e dos cais para os canais do circuito de refrigeração. Finalmente, na terceira fase (de 1928 a 1930) deu-se a ultima ampliação da sala das caldeiras, com uma nova nave industrial de maiores proporções que as anteriores, da sala de máquinas e da subestação.
Assim, na década de 1930, a sala das caldeiras da central contava com onze caldeiras de baixa pressão, dez delas da marca Babcock & Wilcox e uma da marca Humboldt. A sala das máquinas, por sua vez, contava com cinco grupos geradores de diversas potencias e marcas: Escher & Wiss, AEG (dois grupos), Stal-Asea e Escher Wiss/Thompson.
Fase da Alta pressãoCom o aumento de potência dos dois novos grupos turboalternadores AEG montados em 1934, foi necessária a instalação de novas caldeiras, que funcionassem com vapor de alta pressão. A construção foi feita nos terrenos anteriormente ocupados pela primitiva Central Tejo, a qual foi demolida em 1938 para a construção deste novo edifício das caldeiras de alta pressão, o edifício mais imponente do conjunto. O seu interior albergava três grandes caldeiras de alta pressão da marca Babcock & Wilcox, as quais começaram a funcionar em 1941.
Com a destruição da primitiva Central Tejo e instalação do edifício das caldeiras de alta pressão, houve necessidade de espaço para as oficinas e arrecadações. As CRGE compraram então os terrenos contíguos localizados no lado nascente do seu complexo, onde laborava a antiga refinaria de açúcar Senna Sugar Estates, Ltd. propriedade da Companhia de Açúcar de Moçambique. Foi também necessário criar uma sala de auxiliares, para tratamento de águas, a qual foi instalada no interior do edifício das caldeiras de baixa pressão, desmantelando as duas primeiras caldeiras.
Em 1950 o edifício das caldeiras de alta pressão, foi ampliado para incluir mais uma caldeira, que entrou ao serviço no ano seguinte e constituiu a última ampliação da central.
A Integração na Rede Eléctrica Nacional. Com a entrada em vigor em 1944, da Lei 2002 – Lei da Electrificação Nacional, que dava prioridade absoluta à produção de energia hidroeléctrica, a Central Tejo passou a ter um papel secundário no sector eléctrico devido à construção da primeira grande central hidroeléctrica, a barragem do Castelo do Bode, que começou a funcionar em 1951, passando a Central Tejo a ser gradualmente uma central de reserva.
Não obstante, a Central Tejo manteve-se em funcionamento ininterrupto entre 1951 e 1968, excepto em 1961. Em 1972, no seguimento de um atentado, contra o regime de Salazar, foram derrubadas linhas de alta tensão que transportavam energia eléctrica para Lisboa vinda da central hidroeléctrica do Castelo de Bode, a central Tejo foi novamente posta em marcha produzindo electricidade pela última vez na sua historia. O seu encerramento oficial deu-se em 1975.
Após o encerramento e nacionalização das companhias eléctricas, decidiu-se dar uma nova vida a esta antiga central termoeléctrica, reabrindo-a com fins culturais - Museu da Electricidade. Em 1986 constituiu-se a primeira equipa responsável pelo Museu, que em 1990, abriu as suas portas ao público. Entre 2001 e 2005 o Museu sofreu uma reestruturação profunda, desde todo o património arquitectónico até ao conteúdo museográfico. Finalmente, em 2006 o museu reabriu as suas portas, mas agora com um novo tipo de museologia, muito mais pedagógica e dinâmica.
O conjunto arquitectónico da Central Tejo, depois das sucessivas transformações e ampliações ao longo dos anos, encontra-se num perfeito estado de conservação tratando-se de um grande conjunto fabril da primeira metade do século XX. Todo o conjunto de edifícios encontra-se em plena harmonia estética graças ao uso de uma estrutura de ferro coberta de tijolo em todos os corpos. Apesar disso, existem diferentes estilos entre as naves de baixa pressão e o edifício de alta.
O princípio de funcionamento de uma central termoeléctrica baseia-se na queima de um combustível para produzir vapor que, por sua vez, faz girar um gerador de corrente elétrica. Isto é simples de realizar na teoria, mas na prática é necessário um conjunto complexo de máquinas, circuitos e logística.
Na Central Tejo o combustível principal foi o carvão, o qual chegava por via marítima e era descarregado para a praça com o mesmo nome para, posteriormente, ser depositado no triturador e seguir para os silos misturadores. Dai, seguia para o tapete de distribuição no topo do edifício, de onde caía para o tapete de combustão no interior da fornalha. Aqui era queimado a uma temperatura de sensivelmente 1200°C. O calor assim gerado transformava em vapor a água que passava pelos tubos interiores da caldeira e que, posteriormente, era conduzido para os turboalternadores. A água aqui utilizada, circulava em circuito fechado e era quimicamente pura. Para tal passava por um processo de depuração e filtragem para prevenir que deteriorasse os equipamentos da própria central.
Assim sendo, o vapor viajava nas tubagens a alta pressão (38 kg/cm²) até aos grupos geradores, onde a turbina transformava a energia térmica do vapor em energia mecânica, e o alternador transformava a energia mecânica que lhe era transmitida pela turbina em energia eléctrica, produzindo uma corrente eléctrica trifásica de 10.500 V com uma frequência de 50 Hz, que após passar pela subestação da central era distribuida pelos consumidores.
O vapor por sua vez, depois de realizar trabalho nas turbinas, era dirigido aos condensadores onde se transformava novamente em água para voltar a ser utilizada nas caldeiras. O vapor quente voltava ao estado líquido por contacto com as paredes frias dos tubos internos do condensador, nos quais passava água no rio no seu interior. Por isso mesmo, a água do rio Tejo nunca entrava em contacto directo com a água pura usada como fluido de trabalho. Do condensador, a água era bombada de volta às caldeiras e dessa forma fechar o ciclo.
O funcionamento da central era impossível sem as pessoas que, durante gerações, ali trabalharam. Foi necessária uma estrita divisão de tarefas, e um sistema laboral por turnos, de forma a garantir o funcionamento ininterrupto da central. Os cerca de quinhentos operários que trabalhavam durante todo o dia e toda a noite, distribuíam-se por mais de quarenta e cinco funções diferentes. Essas funções iam desde os descarregadores de carvão, até aos técnicos e engenheiros mais especializados, passando pelos trabalhadores da sala das caldeiras, das oficinas de carpintaria e forja, etc.
Os trabalhos mais duros eram os que envolviam a queima do carvão, quer na sala das caldeiras quer na sala dos cinzeiros, tendo os trabalhadores que suportar temperaturas ambiente extremamente elevadas, pela queima de carvão no interior das caldeiras, poeiras com origem na combustão e ruídos ensurdecedores durante todo o turno de trabalho. Mesmo assim, era na sala das caldeiras onde trabalhavam mais operários e havia mais tarefas diferentes. Era ai que se encontravam o Engenheiro técnico - chefe, engenheiros técnicos, cabos - fogueiros, vice – cabo - fogueiros, fogueiros, chegadores e os trabalhadores (extracção de cinzas), todos tinham condições de trabalho duríssimas, sobretudo os últimos.
A Central Tejo apresenta um enorme valor patrimonial, não só em aspectos arquitectónicos ou arqueológicos, mas também históricos, sociais, antropológicos e económicos. O património deixado ao longo do tempo de actividade da Central é inegável. Foi a grande central de Lisboa e de Portugal até meados do século XX. O seu raio de acção chegava a toda a cidade e ao Vale do Tejo, iluminando ruas, casas e fornecendo energia as fábricas. Sem ela, a história de Lisboa teria sido diferente. Foi a parte invisível da expansão e crescimento da cidade no século XX, a fundação da industrialização regional e da primeira linha férrea electrificada no país (Lisboa – Cascais).
Ao mesmo tempo, a Central Tejo, foi determinante para a modernização de Lisboa; Diversas gerações trabalharam e sofreram debaixo das caldeiras para que outros pudessem acender as luzes em casa, passear pelas ruas à noite iluminados por luz artificial, ou viajar tranquilamente sentados em carros eléctricos que subiam as infernais encostas de Lisboa. Alem disso, dentro do complexo da própria Central, ainda existe um conjunto de património que ao manter-se intacto, faz com que esta antiga central termoeléctrica tenha sobrevivido à desindustrialização do bairro de Belém e seja única em todo o pais e talvez na Europa.
O conjunto fabril da Central Tejo (Imóvel de interesse público desde 1986), com corpos de baixa pressão e sala das máquinas (1914-1930), alta pressão e sala das águas (1938-1951), e as diversas oficinas da central, cujo conjunto de edifícios, (outrora pertencentes à antiga refinaria de açúcar, datados de finais do século XIX princípios do século XX), são hoje o Centro de Documentação e as Reservas do Museu.
Existem no actual Museu quatro caldeiras de alta pressão da marca Babcock & Wilcox de 1941 e 1951 e dois turboalternadores de marca AEG de 1942 com os respectivos condensadores. Existem ainda, refrigeradores e disjuntores, aparelhos de medida na sala das máquinas, depuradores, filtros, bombas e destiladores na sala das águas, todos da década de 40; noras elevatórias de carvão, vagonetas, silos, material de carpintaria e forja, etc. Nas reservas e no jardim, podemos ainda encontrar grupos geradores de outras centrais eléctricas, reguladores de velocidade, válvulas e diversos elementos ligados à iluminação pública de Lisboa, bem como, electrodomésticos de todas as épocas, tipos e classes.
Que esperas para a visitar e fotografar?
em tempos era assim
Fonte: Wikipedia
Sem comentários:
Enviar um comentário